terça-feira, 25 de março de 2008

Uma chance às palavras.

Atire a primeira tecla quem nunca desconjurou àquele que repassa e-mails enormes, que impressos dariam 3 ou 4 páginas de A4.

Agora taque o teclado inteiro, de preferência em direção à minha cabeça, quem já pacientemente parou para ler um deles, que seja.
Alguns são suplicantes:

-Por favor, não me delete, leia até o fim!

E você numa suposta caridade, deixa-o lá, na sua caixa de entrada, como a dizer:

- Ok, e-mail, você pode ficar aí. Um dia, quem sabe, eu te leio.

Agora com essas contas de e-mail de armazenamento infinito, você pode deixa-lo lá por anos e nem lembrar de sua existência. Até um dia se dar conta que tem mil e-mails, centenas de não-lidos. E daí? Direto pra lixeirinha.

E aí, já era. Aquelas palavras um dia encaminhadas, desaparecem. Sem ao menos terem tido a chance de existirem para você.

Uma pena? Não pelo e-mail mas por você. Será que naquela mensagem cheia de FWDs no título não tinha nada de aproveitável?

Não sejamos tolos, sabemos que as palavras estão perdendo o seu valor há muito tempo. No Orkut não é difícil encontrar profiles avessos à literatura. Na seção "livros", comumente há declarações que me deixam cabreira, tamanha naturalidade. "Não gosto de livros", "Ler é coisa de otário" e por aí vai. Enquanto os que empenham em rechear esse conteúdo, são tachados de pseudo-intelectuais, nerds e claro, otários.

Ainda existe uma terceira espécie, os reais pseudos, que relacionam títulos que jamais passaram por suas vistas, a não ser através de qualquer resumão de curso pré-vestibular.


Afinal, o que acontece com as palavras? Deixaram de ser atraentes? São chatas, mal-amadas, enfadonhas? Deram lugar para o que não exige muito raciocínio como a TV?

Talvez seja hora de dar uma chance às palavras. Lutar contra o preconceito e agarrar-se a elas. Letra por letra, palavra por palavra, sentença por sentença. Deixar-se envolver, mergulhar na história e só parar quando os olhos cansarem.

Pegue hoje qualquer livro que sempre quis ler, mas nunca começou. Não precisa ser um best-seller ou aquela obra-prima. Selecione um livro que realmente queira ler. Fique longe de telefones, de cachorros latidores, de vizinhos barulhentos. Coloque uma música gostosa de ouvir, mas não aquela que você ama, pode tirar a concentração.

Na praia, no parque, no banheiro, no ônibus...as palavras estarão esperando por você.

Dê-se esta chance.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Maldade começa com M de MSN



Eu diz:
A Clara* deixou de ser lésbica

Irmão diz:
haha
Eu diz:
mas o namorado é feio
Irmão diz:
viu no orkut?
Eu diz:
tou fuçando agora
Irmão diz:
ela não é lésbica
Irmão diz:
ela é carente
Eu diz:
and bisexual
Irmão diz:
sorte dele

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* nome alterado

sexta-feira, 7 de março de 2008

Vovó não é mais a mesma.

Vânia sorrateiramente tampa os olhos de sua avó:

- Adivinha quem é?

- Maria!
- Não.
- Então, Camila?
- Não.
- É o Jorge!
- Não.
- Eustáquio?
- Caramba! Minha voz é de mulher, não percebeu?!
- Tá me chamando de surda?


Vânia, descrente:

- Então vai, de novo, mais uma chance.
- João? Não. Marisa?

Destampa os olhos, em desistência:

- Pô, vó...
- Sabia que era você, você, uhmmm...

- Vânia, vó. Meu nome é Vânia!
- Isso! Tânia! Tinha CER-TE-ZAB-SO-LU-TA que era você.